
Aloísio Daher confirma o baixo salário e a rotina massacrante
Um salário médio de R$ 9 mil por mês já não é o suficiente para
atrair médicos para compor as escalas de plantão de urgência e
emergência das Unidades de Atendimento Integrado (UAIs) em Uberlândia.
Prova disso é que a Secretaria Municipal de Saúde tem 60 vagas abertas
atualmente para a contratação em caráter de urgência de profissionais da
área com perfil adequado, mas sem nenhuma previsão de quando isso
acontecerá (veja vagas abaixo). Segundo a classe médica, o desinteresse
está relacionado às condições de trabalho e também ao salário, que não é
mais tão atrativo, principalmente, quando comparado com os rendimentos
oferecidos pela rede particular, onde a carga de trabalho também é mais
leve.
“O salário é pouco para a rotina, que é massacrante. Muitas vezes,
quando um colega de trabalho falta, temos que dar conta de todo o
serviço, sem ajuda. Temos que virar uma ‘máquina’”, disse Aloísio Daher
de Melo, ex-médico da Rede Municipal de Saúde, onde trabalhou por mais
de nove anos.
Com o crescimento dos usuários dos planos de saúde nos últimos anos,
que hoje somam 46 milhões de pessoas no país (25% da população da
população brasileira), a disputa por profissionais médicos para
atendimento em serviços de urgência e emergência se torna cada vez
maior. “Já não é qualquer profissional que topa trabalhar nesse setor e,
além disso, é preciso ter experiência para não enfrentar problemas. Só
que os experientes vão para as melhores ofertas”, disse o delegado do
Conselho Regional de Medicina (CRM) de Uberlândia, Melicégenes Ambrósio.
De acordo com Álvaro Barale, coordenador do curso de Medicina da
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), “nas condições oferecidas, os
médicos desses locais (UAIs) trabalham dias seguidos, até 52 horas
consecutivas, na busca por rendimentos melhores. E poucos querem correr o
risco, pois uma indenização por erro médico é pesada”, afirmou.
Mas é graças aos plantões extras, proibidos por lei, que alguns
médicos da Rede Municipal de Saúde chegam a um salário de até R$ 20 mil
(veja valores abaixo).
Plantões extras são comuns na rede

Álvaro Barale critica as condições de trabalho oferecidas
Diante da falta de 60 médicos para compor as escalas de plantão de
urgência e emergência das Unidades de Atendimento Integrado (UAIs) em
Uberlândia, hoje, 125 dos 265 médicos contratados para o serviço nas
unidades se veem obrigados a fazer plantões extras. Alguns deles chegam a
fazer cinco por mês, o que é proibido por lei. Por esse motivo, o
município já foi multado duas vezes pelo Ministério do Trabalho, o valor
de uma das multas foi de R$ 500 mil.
O problema se torna ainda mais grave quando o excesso de trabalho
passa a comprometer o atendimento dos pacientes. Isso acontece,
principalmente, quando um plantonista não comparece ao serviço.
“Precisamos destes 60 profissionais para não termos estes problemas e
não receber multas. Não temos perspectiva de quando vamos encontrá-los,
mas vamos continuar em busca. Acredito que temos um salário na média do
mercado e ainda pagamos em dia”, afirmou o coordenador da Rede Municipal
de Saúde, Adenilson Lima e Silva.
Quanto ao atendimento ambulatorial, o coordenador afirma não ter
vagas abertas nem problemas de atendimento. Ao todo, a Rede Municipal de
Saúde conta hoje com 898 médicos, o que dá uma média de 1,46 por
habitante. Enquanto isso, no país, existem 371 mil médicos, sendo 1,95
por habitante.
Coordenador defende associação
Na opinião de Álvaro Barale, coordenador do curso de Medicina da UFU,
a solução para acabar com a dificuldade de contratação de profissionais
para os serviços de urgência e emergência da Rede Municipal de Saúde
estaria na associação da rede com o ensino.
Segundo o coordenador, atualmente, os estudantes do curso não têm
tantas oportunidades de conhecer a rede pública durante a faculdade. Com
isso, além da falta de experiência para assumir um serviço de
plantonista, já que no Hospital de Clínicas da UFU só assistem casos de
média e alta complexidade, os estudantes não se identificam com o
sistema. “Muitos escolhem a residência e os que não conseguem uma vaga
preferem ficar estudando para passar no futuro a se aventurar nos
plantões. Caso tivessem um contato com a rede durante a formação, esta
história poderia ser diferente”, afirmou.
Já o Conselho Regional de Medicina (CRM) defende a ideia de que a
população bem orientada também resolveria parte do problema. Segundo
Melicégenes Ambrósio, delegado do CRM, “na falta de informações, muitos
pacientes vão ao serviço de emergência para resolver um problema que é
ambulatorial, como uma dor de cabeça, gripe. Caso isso não acontecesse, a
carga de trabalho nas unidades públicas seria menor, o que poderia
atrair com mais facilidade os profissionais”, disse.